sábado, 20 de julho de 2013

Infância


Não havia com o que preocupar-se, somente lembro-me de esperar que o dia seguinte tivesse sol para que eu pudesse ir para a escola para brincar com minhas amigas estranhas...
Vida pacata, feliz... Chocolate, doces, sorrisos inocentes...
Paqueras de escola, cartinhas com caligrafia feia de criança, e alguns simples "Eu te amo" sem sentimento algum, somente anseios de criança...
Naquela época minha cor preferida era o amarelo... Aquele forte, impactante, como a alegria que cercava meus 9 anos de idade...
Quando lembro, me vem imagens na cabeça... Ao fundo ouço uma música do Oasis, e vejo tudo de um lugar azul, alto...
Vejo meu cabelo negro, enorme, ao vento, e um sorriso tão lindo que nem eu sabia que era meu...
Gritei aquela menina, ela virou, me olhou sorrindo, depois sumiu entre os corredores daquela escola que já não existe mais...
Havia um garoto que gostava dela... Porém ela era estranha, o ignorava, talvez aqueles versos dele fossem realmente verdadeiros...
Anos se passaram, a infância sumiu por entre o ano de 2000...
Todos que conheci, já não existem em minha agenda... Minhas amigas não lembram mais do meu rosto, minha caligrafia feia desapareceu... Meus cabelos negros foram substituídos por fios de cor rosa, a cor amarela já não faz parte do meu guarda-roupa, assim como meu sorriso, que já não é tão lindo... Tão inocente... Tão branco...
Minhas roupas são rasgadas, negras... Estou quase irreconhecível, de maquiagem escura e tênis descolado...
Todos tornaram-se tão estranhos aos meus olhos, todas as expectativas que eu tinha foram substituidas por encontros com o destino... Alguns dos meus amigos já possuem filhos e eu estou sozinha, somente com meu fone no ouvido... Mas não me queixo, caminhar sozinha já virou rotina, e minha trilha sonora completa-se com as imagens das ruas daqui, por onde passei quando tinha essa idade...
Esses dias encontrei aquele menino... E por incrivel que pareça, o cabelo dele foi tomado por outras cores também, roupas pretas são sua preferência... E ele me reconheceu... Justo ele, que não devia ter motivos para me dizer um "Oi", sorriu comigo, e quando recorda do passado me abraça e diz, que o destino fez questão de aguardar dez anos para que pudessemos nos reencontrar e fazer tudo que naquela época não foi feito...
Meu All Star descolado, faz par com o dele que está no mesmo estado deplorável... Como se fossemos amigos desde sempre...
Agora recuperamos o tempo perdido...  Ele tem uma banda... Eu escrevo versos...
Suas músicas preferidas são pesadas... As minhas são melódicas e dessa forma um completa o que o outro não tem...
A caligrafia dele ainda está ruin... Ele me disse que aos 9 anos de idade, não fazia suas tarefas no caderno de caligrafia, porque escrevia somente meu nome naquelas linhas e eu não sabia... Mas as palavras que saiam dele naquela época, são as mesmas de agora... Minhas expectativas sobre ele também mudaram... Aquele menino irritante, agora tira sorrisos meus e quando estou com ele é como se ele fosse meu melhor amigo e confidente...
As vezes ele me olha sorrindo e diz:
- O destino é louco, você não acha?
E eu encabulada dou risada e ele sorri junto, como se não houvesse amanhã... Como se esperasse que no outro dia fizesse sol para que pudesse ir na escola para me ver...
Nós somos assim... Estranhos... Sem expectativas... Mas juntos conseguimos sorrir... Porque ainda somos crianças... Nos encontramos no corredor daquela escola que não existe mais...
Mas está presente em nossa memória como um livro escrito por nós.





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